Uma fisgada no coração
(...)
ao ouvir a história eu não tive dúvidas: era no antigo
Guadalupe que eu queria morar.
Consegui, depois de uns meses
e só tive coragem de contar pra minha mãe no dia da
mudança.
fiquei com medo de que ela estragasse tudo, e também
não encontrava palavras certas para dizer
isso, mãe
estou Indo
me sentia muito Culpada
por deixá-la assim, Sozinha.
abri o diário:
deixar o seu teatro, eu que sempre fui o seu público mais fiel.
acontece que chegou a hora de parar de assistir à vida dos outros.
chegou a hora de eu viver também.
na manhã da mudança, coloquei minhas coisas na mala.
desci as escadas, pensativa.
minha Mãe estava de costas, na cozinha
coando café.
- tá quase pronto - ela disse, sem se virar.
- não precisa, mãe, eu já estou indo.
e vê-la ali, de barriga na pia
quase me fez correr para os seus braços, me ajoelhar
aos seus pés
(...)
Aline Bei
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