O importante é ter a ilusão de que nossa cerveja é a única que presta.
A DE SEMPRE
“(...) Leovigil, traga a de sempre.
- Não quis dizer o nome?
- Não. Minha marca de cerveja — "minha garrafa", digamos assim, pois a individualidade começa pela garrafa — passou a chamar-se "a de sempre". Não gosto de mudar as estruturas sem justa causa, nem me interessa dançar de provador de cerveja, entende?
- Mas que custa experimentar, homem de Deus?
- Só por experimentar acho frívolo. Os moços, sim, não encontraram ainda sua definição, em matéria de cerveja e de entendimento do mundo. Saltam de uma para outra fruição, tomam pileques de ideologias coloridas, do vermelho ao negro, passando pelo róseo, pelo alaranjado e pelo furta-cor. Mas depois de certa idade, e de certa experiência de bebedor, você já sabe o que quer, ou antes, o que não quer. Principalmente o que não quer. E é isso que os outros querem que você queira. Tá compreendendo? (...)
- Você está divagando.
- Estou. Divagar é uma forma de transformar pensamentos em nuvem ou em fumaça de cigarro, fazendo com que circulem por aí.
- Ou se percam.
- E se percam. Exatamente. O importante não é beber cerveja, é ter a ilusão de que nossa cerveja é a única que presta.
Sujeito mais conservador! Ou sábio, quem sabe?”
CDA
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