Discurso à beira do caos

    Ai, ai! Se amanhã eu não tivesse que escrever um texto de propaganda para uma companhia de cigarros; se não tivesse que terminar a tradução duma peça; se não tivesse que começar a adaptação dum livro infantil; se não tivesse de acabar a arrumação de dois ou três livros. Se os esquemas do mundo civil fossem menos implacáveis; se eu não gostasse tanto de futebol, da praia, de esperdiçar o tempo; se não fosse essencialmente um preguiçoso... Ah, não fossem essas compressões todas, e tantas outras, internas e externas, eu iria cair de cara e coroa na Renascença. Dava adeus aos amigos, aos patrões, ao Botafogo, à dona Janaína, agarrava meu Jacob Burckhardt, subia a serra de Petrópolis e ia bater em Florença. (...)

Paulo Mendes Campos

Comentários

Postagens mais visitadas